terça-feira, 11 de outubro de 2011

Luis Piçarra

A sua condição de alentejano e o seu desvelo pelo Benfica, clube ao qual dedico grande afinidade, leva-me a contar aos meus amigos, que fazem o favor de me visitar, um pouco da história de vida, deste famoso tenor alentejano.
Luís Raul Janeiro Caeiro de Aguilar Barbosa Piçarra Valderazo y Ribadeneyra, era este o seu nome complecto, nasceu em Moura, no dia 23 de Junho de 1917, filho de um rico empresário. Cedo revelou alguma apetência pelos livros, razão pela qual o pai o enviou para Lausanne, na Suíça, onde realizou toda a classe primária. Após a conclusão desta parte dos estudos, regressou a Portugal. O ensino liceal, foi em Lisboa, seguindo-se a matrícula na faculdade de direito em Coimbra. No entanto, direito não era a vocação de Luís Piçarra. Volta a Lisboa, onde ingressa na Escola de Belas Artes, matriculando-se em arquitectura. O estudo de arquitectura, tem inicio em Lisboa e termina em Paris na École des Beaux Arts, mas não completou o curso. Os estudos de arquitectura, tiveram sempre pelo meio o estudo do canto e da musica, que eram a sua paixão. Ainda muito jovem, tem a sua primeira incursão na Academia dos Amadores de Musica, na ópera "Barbeio de Sevilha" foi uma verdadeira revelação, motivo pelo qual, um empresário o convida para integrar um espectáculo feérico (mágico) "A Lenda dos Cravos". Entretanto aparece o Italiano Tito Schippa, que o lança numa carreira internacional.
Aos 28 anos, viaja para o Brasil, é aí que conhece Agustin Lara, o autor de Granada, fez um enorme sucesso com "copacabana, princesinha do mar" em inúmeros shows, rapidamente ganhou fama e os brasileiros logo começaram a apelidá-lo de "um cara bom de verdade". Após o sucesso no Brasil, viajou para Buenos Aires, Argentina, onde reencontrou Tito Schippa a preparar-se para cantar Manon. Piçarra mal podia adivinhar que iria, muito em breve, substituir Schippa, que adoecera subitamente. O êxito foi determinante para que o empresário o levasse até ao Egipto, Grécia, Turquia, Síria, etc. No Cairo é contratado para cantar para o rei FARUK. Nessa altura, Raul Ferrão envia-lhe uma cantiga a que chamou Coimbra e que Luís Piçarra transforma em Avril au Portugal, uma gravação que vendeu cerca de dois milhões de discos.
Apesar de viajar pelo mundo inteiro, não esqueça Portugal nem o seu Benfica, era o sócio numero 635. Em jogos no estádio da Luz, era sempre ouvido o Hino do clube, na voz do benfiquista.
Luis Piçarra ganhou muito dinheiro, mas como o ganhou também o gastou. Já em África, viaja da África do Sul para Luanda, onde vai encontrar os militares portugueses em campanha. É convidado a cantar para os militares e viaja com eles em direcção ao norte. Nessa deslocação, sofrem uma emboscada e o cantor, para se salvar, passa várias horas dentro de um pântano, quando consegue sair percebe que está rouco. Ainda em Luanda, dirige o Centro de Preparação de Artistas da Rádio, que abandona em 1975, regressando definitivamente a Portugal. Com a mulher e três filhos, sem dinheiro e sem voz, prepara-se para sofrer alguns anos de sacrifícios. Dedica-se a pequenos trabalhos e pede a reforma, 18 contos era a sua pensão. Mais tarde a Secretaria de Estado da Cultura, na pessoa de Pedro Santana Lopes, atribuiu-lhe uma pensão de 120 contos. Muito doente, recolhe com a mulher, á casa do artista, onde morre três meses depois, a 22 de Setembro de 1999. Tinha 82 anos e, segundo um escrito deixado por si, continuava a acreditar na humanidade. Sábias palavras, digo eu.